A insuficiência renal crônica é uma doença de elevada morbidade e mortalidade que acomete milhões de pessoas em todo o mundo. No Brasil, apresenta-se também como um grande desafio para a saúde pública, devido ao crescente número de pacientes em hemodiálise. O paciente renal crônico em tratamento dialítico se submete a uma transformação abrupta do seu cotidiano que impacta em vários aspectos da vida. O adoecimento implica uma convivência com o território do tratamento de hemodiálise. Esta realidade significa a coexistência de múltiplos territórios. A percepção do paciente frente a essa multiplicidade traduz as multiterritorialidades. Este estudo teve como objetivos: identificar as multiterritorialidades envolvidas no tratamento de hemodiálise dos dois serviços de Teófilo Otoni e identificar as contribuições da Psicologia neste contexto. Trata-se de um estudo descritivo, de abordagem qualitativa. Foram realizadas 8 entrevistas semiestruturadas com indivíduos adultos com faixa etária entre 30 e 65 anos, sendo 4 do sexo masculino e 4 do sexo feminino. Dos indivíduos selecionados, 4 eram pacientes do Hospital Santa Rosália e 4 do Hospital Philadélfia. Além disso, 4 entrevistados residiam no município de Teófilo Otoni e 4 em outros municípios. Os dados qualitativos foram analisados segundo a técnica da “Análise de Conteúdo”, com as informações sendo agrupadas em categorias e as falas analisadas dentro de cada tema. As categorias trabalhadas foram: Significado da vida antes do adoecimento, Significado da vida após a doença e o tratamento, A família na hemodiálise, Atividade realizada pelo paciente enquanto está na hemodiálise, Percepção sobre o tratamento de hemodiálise, Significado das viagens para o tratamento e Teófilo Otoni como opção de território para viver. O estudo permitiu conhecer as mudanças biopsicossociais vivenciadas pelos pacientes após o tratamento de hemodiálise. Os discursos demonstraram que os pacientes entendem a hemodiálise como forma de sobrevivência e, apesar das dificuldades enfrentadas, conseguem se adaptar ao tratamento. As viagens são cansativas, mas eles preferem se submeter a elas a perder o vínculo com o seu território de origem. O tratamento não permite um desenraizamento, mas promove a coexistência de múltiplos territórios e suas multiterritorialidades. Pode-se concluir que o estudo apontou a necessidade de ações interssetoriais que valorizem a dimensão subjetiva do paciente, com políticas públicas que contemplem as multiterritorialidades envolvidas no tratamento da hemodiálise. Mostrou também que a Psicologia Hospitalar integra essa proposta, uma vez que, ela contribui para uma visão ampla do homem frente ao seu processo de doença e tratamento, considerando suas diversidades.